As Aparências Iludem...

Já dizia o provérbio. Quantas vezes não nos enganámos ao estereotipar alguém como sendo assim ou assado com base apenas na sua aparência? Pois, foram pelo menos algumas. Algumas oportunidades desperdiçadas, fora as que nem nos chegamos a aperceber que desperdiçámos.

Em termos evolucionistas, o estereotipar permitiu-nos preservar a nossa segurança e evitar que fossemos caçados etc. é por isso que quando se vê alguém no escuro sem se identificar a tendência é fugir e não ficar lá para ver se é amigo ou não. O que por vezes pode levar a fugir sem necessidade, no caso de ser amigo, mas no caso de não ser acabaram de escapar a um possivel ou homicida ou afins, o que feitas as contas acaba ou ser revelar benéfico para a própria pessoa.

Mas o estereótipo sobre o qual quero falar é o social.

Existem basicamente 2 tipos de estereótipo: o indutivo e o dedutivo.

O dedutivo revela-se quando a partir de um exemplo (uma pessoa ou situação) se estereotipa algo para um grupo de pessoas (normalmente etnia, classe social, classe politica etc.).

O indutivo revela-se quando através de um grupo (etnia, etc etc.) se estereotipa um individuo como tendo X caracteristicas que caracterizam o grupo e como tal caracterizam as pessoas incluídas nesse grupo, o que está muitas vezes errado senão praticamente todas.

A dedução e indução são ferramentas que permitem fazer uma "ponte" entre o que conhecemos e o que desconhecemos, criar uma ligação de forma a podermos explorar o desconhecido. É normalmente utilizado nas ciências normalmente para criar novas teorias e testar o que já sabemos (supostamente). No caso especifico do estereotipo social é uma má ferramenta pois existe o risco de classificar mal as pessoas e as consequências de tal acção é extremamente prejudicial para os visados, quer queiramos quer não. Todos diferente todos iguais. Somos todos seres humanos mas somos todos diferentes, felizmente, senão seria aborrecido conhecer novas pessoas...

O estereotipo social leva ao preconceito e a atitudes perante os grupos e pessoas visados. Ninguém gosta de ser julgado pelo que não é. Eu por viver em Chelas não quer dizer que seja um bandido, eu por ter um pai que fuma não quer dizer que eu tenha de fumar, tu por teres cara de anjinho não quer dizer que não sejas capaz de bater em alguém, tu por seres NERD não quer dizer que não gostes de sair à noite... tantos exemplos que poderia dar aqui mas acho que deu para perceber a ideia.

Para que não haja dúvidas a probabilidade de haver uma pessoa igual nos biliões que neste momento habitam o planeta Terra é de 3 biliões (quantidade normal de Pares de bases numa célula de DNA) X 3 biliões, ou seja, astronómicas... então porque é que tratamos algumas pessoas como sendo iguais a quaisquer outras com a mesma etnia, classe ou crenças??

Como é óbvio todos nós temos interesses comuns e não somos totalmente diferentes mas não devemos extrapolar de uma caracteristica para um conjunto de caracteristicas sem que realmente essa pessoa a expresse.

Outra razão pela qual os seres humanos estereotipa é económica, no sentido em que não temos tempo para conhecer todas as pessoas com as quais nós nos damos e como tal surge a necessidade de enquadrar cada pessoa de forma a facilitar e agilizar as relações com as outras pessoas. Para realmente se conhecer alguém é preciso tempo e investimento, daí que, normalmente, tenhamos todos poucos amigos a sério no sentido de conhecer profundamente a pessoa.

Outra das razões é o medo do desconhecido ou por outras palavras a curiosidade pelo desconhecido ou tornar o desconhecido conhecido. Os seres humanos são uma espécie neofílica, basicamente temos mais medo de não conhecer algo do que medo das possíveis consequências negativas do mesmo. Vejam os variados exemplos ao longo da nossa história como a descoberta da bomba atómica que tanto mal nos fez e outros exemplos bons como é o caso da descoberta da penicilina etc etc. A longo da nossa história descobrimos enumeras coisas e todos os dias descobrimos coisas novas por causa dessa tal necessidade de conhecer o desconhecido.

Mas voltando ao assunto original, nós Temos de classificar e estereotipar as pessoas senão damos em doidos, é tão simples quanto isso, pois não suportamos ter alguma coisa sem significado e ao estereotipar estamos a "encher" as pessoas de caracteristicas e ficamos satisfeitos. Mas como é óbvio isso não traz nada de verdadeiro ou traz muito pouco... é como fazer Um-Dó-Li-Tá...

Com isto quero dizer que estereotipar era bom numa altura em que os perigos eram muitos e estereotipar era algo que permitia sobreviver. Mas longos vão os tempos em estereotipar deixou de fazer sentido. No mundo do ser humano hoje em dia são menos os exemplos em que estereotipar é benéfico e mais os que são prejudiciais.

Hoje mais do que nunca estamos exposto a mais pessoas do que nunca, quer seja através da internet, quer através da TV, através dos media e também porque actualmente viajamos mais e para mais longe do que à 50 anos atrás por exemplo, com a massificação das viagens a preços baixos.

É importante que tenhamos a noção de que o facto de estarmos expostos a mais pessoas é uma oportunidade de encontrarmos as pessoas que todos nós procuramos durante toda a nossa vida e que nos tornam felizes, os amigos verdadeiros e o amor verdadeiro. Mais exposição, mais pessoas, mais escolha mútua, mais oportunidades de se ser feliz com a pessoa certa!

A estereotipar vamos estar a desperdiçar oportunidades de ser feliz. Temos de olhar para além da aparência porque afinal a aparência ilude.

Todas as pessoas incluindo nós próprios, passamos por fases da vida, umas menos boas, outras melhores, mas temos  a noção que o que queremos hoje, o que fazemos hoje e o que pensamos hoje, não é o que vamos pensar daqui a uns tempos ou até mesmo amanhã. Eu hoje posso gostar de usar roupas vivas e amanhã posso sentir-me depressivo e usar roupas escuras, mas não é isso que faz de mim uma pessoa introvertida porque uso roupas escuras e uma pessoa extrovertida porque uso roupas vivas. Não é possível saber as caracteristicas de alguém apenas por uma impressão de um dia, de um instante que não esclarece nada do que uma pessoa é, até mesmo porque não sabemos a totalidade da circunstância em que decorreu um determinado acto dessa pessoa. Só mesmo através do convivio e do aprofundamento duma relação pessoal com alguém conseguimos chegar ao "fundo" dessa pessoa e saber se realmente vale a pena investir a sério e se vamos ter algum retorno desse investimento em termos de tempo e sentimentais.

Desculpem se estou a divagar e a repetir-me nalgumas coisas mas é importante que se tenha consciência das barbaridades que nós próprios cometemos no dia-a-dia e das quais não nos apercebemos.

Cada pessoa tem sentimentos, desejos, necessidades, pensamentos, tal como nós, por isso há que pegar nisso e descobrirmos alguém que nos complete, ou alguém que nos faça sentir que afinal existe alguém igual a nós próprios e que nos compreende. Nenhuma pessoa é dispensável e o estereotipo tem de ser banido da nossa mente!